O
Jogo do Genocídeo de Darfur
A CNPC da China detinha os
direitos do "Bloco 6", que ocupava a região sudanesa de Darfur, perto
da fronteira com o Chade e a República Centro-Africana. Em Abril de 2005,
quando o Sudão anunciou que havia encontrado petróleo no sul de Darfur,
estimou-se que seria capaz de bombear 500 mil barris por dia quando
desenvolvido. A imprensa mundial esqueceu-se de relatar esse fato vital ao
discutir o conflito de Darfur que se desenvolveu posteriormente.
O genocídio era o tema
preferido e Washington era o maestro da orquestra. Curiosamente, enquanto todos
os observadores neutros reconheceram que Darfur tinha visto um deslocamento e
miséria humana, enorme e trágico, com dezenas de milhares ou até mesmo 300.000
mortes nos últimos anos, somente Washington e as ONGs próximas usaram a carga emocional do termo ‘genocídio’
para descrever a situação no Darfur. (19)
Se os EUA conseguissem a
aceitação popular da acusação de genocídio, ela abriria a possibilidade de
usá-la como pretexto para intervenção drástica de mudança de regime pela NATO -
isto é, Washington - nos assuntos soberanos do Sudão e, claro, e nas suas
relações de petróleo com a China.
O Ministro da Informação do
Sudão, Abdel Basit Sabdarat, disse ao Los
Angeles Times em 2005, que os EUA pressionaram Cartum para limitar as suas
ligações com as companhias petrolíferas chinesas. “Mas recusamos tais
pressões”, disse ele. “A nossa parceria com a China é estratégica. Não podemos
simplesmente dissolvê-la porque os americanos nos pediram que o fizessemos”. (20)
Ao fracassar na sua tentativa
de pressionar o Sudão para romper os laços com a China, Washington virou directamente
os direitos humanos e outras armas contra Cartum. Lançaram uma campanha
impressionante para ‘salvar Darfur’. O tema do genocídio estava a ser usado,
com o apoio de estrelas de Hollywood como George Clooney, para orquestrar o
caso para uma ocupação, de facto, da NATO na região. Sem surpresa, o governo
sudanês recusou educadamente aceitar o ataque à sua soberania.
O governo dos EUA usou
repetidamente o termo ‘genocídio’ em referência a Darfur. Foi o único governo a
fazê-lo. A Secretária de Estado Adjunta dos EUA, Ellen Sauerbrey, Chefe do
Departamento da População, dos Refugiados e da Migração, disse, durante uma
entrevista online ao USINFO, em Novembro de 2006: “O actual genocídio em
Darfur, no Sudão - uma violação grosseira dos direitos humanos - está entre as
principais questões internacionais de interesse para os EUA”.(21) A
Administração Bush insistia que o genocídio estava a acontecer em Darfur, desde
2003, apesar do facto de que uma missão da ONU, de cinco pessoas liderada pelo
juiz italiano Antonio Cassese, relatar em 2004 que, embora estivessem a ser
cometidos ‘graves abusos dos direitos humanos’, o genocídio não tinha sido
consumado em Darfur. Portanto, requereu julgamentos de crimes de guerra.(22)
Comerciantes
da Morte
Os Estados Unidos, actuando
através dos seus representantes no Chade, Eritreia e Estados vizinhos,
treinaram e armaram o Exército de Libertação do Povo do Sudão (SPLA). Um
indivíduo, chamado John Garang, formado na Escola de Forças Especiais das
Américas dos EUA, em Fort Benning, na Geórgia, dirigiu o SPLA até à sua morte,
em Julho de 2005.(23)
Ao espalhar armas, primeiro no
sudeste do Sudão e depois, desde a descoberta do petróleo em Darfur, naquela
região, Washington alimentou os conflitos que levaram dezenas de milhares de
pessoas à morte e vários milhões de pessoas que foram expulsas das suas casas. A
Eritreia, um Estado cliente de facto dos EUA, recebeu e apoiou o SPLA, o grupo
de oposição NDA, e tanto os rebeldes da Frente Oriental como os de Darfur.
Na região de Darfur, no Sudão,
dois grupos rebeldes - o Movimento Justiça e Igualdade (JEM) e o Exército de
Libertação do Sudão (SLA) estavam a lutar contra o governo de Cartum, do Presidente
Omar al-Bashir.
Em Fevereiro de 2003, o SLA,
supostamente com armas encobertas por intermédio de procuradores do Pentágono,
lançou ataques a posições do governo sudanês na região de Darfur.(24) O
Secretário Geral do SLA, Minni Arkou Minnawi, pediu a luta armada, acusando o
governo de ignorar Darfur. O objectivo do SLA era criar um Sudão democrático
unido.(25) Por outras palavras, mudança
de regime em Cartum.
O Senado dos EUA adoptou uma
resolução, em Fevereiro de 2006, que solicitava tropas da NATO em Darfur, bem
como uma força de paz da ONU mais forte, com um mandato robusto. Um mês depois,
o Presidente George W. Bush pedia forças adicionais da NATO, em Darfur.
Genocídeo,
Ou Petróleo?
Entretanto, o Pentágono estava
ocupado a treinar oficiais militares africanos nos Estados Unidos, assim como
treinou oficiais latino-americanos e os seus esquadrões da morte, durante décadas.
O seu programa de Educação e Formação Militar Internacional recrutou oficiais
militares do Chade, Etiópia, Eritreia, Camarões e da República Centro-Africana.
Muitas das armas que
alimentaram a matança, em Darfur e no sul, foram trazidas através de
'mercadores da morte' privados como Victor Bout, um conhecido antigo agente da
KGB que, após o colapso da União Soviética, encontrou protecção e um novo lar
nos Estados Unidos. Bout tinha sido acusado repetidamente de vender armas em
toda a África. As autoridades do governo dos EUA, significativamente, deixaram as suas operações de venda de armas no Texas e na Florida intactas, apesar do facto
de ele estar na lista dos procurados pela Interpol, por lavagem de dinheiro.
A ajuda americana ao
desenvolvimento África da Subsariana, incluindo o Chade, foi diminuída drasticamente nos últimos anos, enquanto aumentou a ajuda militar. A razão era,
obviamente, o petróleo e a disputa por matérias primas estratégicas. Descobriu-se
que as enormes reservas de petróleo do sul do Sudão, desde o Alto Nilo à
fronteira do Chade, eram conhecidas dos executivos americanos do sector
petrolífero muito antes de serem conhecidas pelo governo sudanês.
O
Projecto para o Sudão de 1974, da Chevron
As grandes petrolíferas
americanas conheciam a vasta riqueza petrolífera do Sudão, pelo menos, desde o
início dos anos 70. Em 1979, Jafaar Nimeiry, o então chefe de Estado do Sudão,
rompeu relações com os soviéticos e convidou a Chevron para desenvolver a indústria
petrolífera do Sudão. O Embaixador da ONU, George H. Bush, falou pessoalmente
a Nimeiry sobre fotos de satélite, que indicavam petróleo no Sudão. Nimeiry
mordeu a isca e convidou a Chevron. Provou-se que esta iniciativa foi um erro
fatal. Desde então, as guerras sobre o petróleo do Sudão foram a consequência.
A Chevron gastou 1,2 biliões
de dólares a explorar e a testar no sul do Sudão e, em 1979, encontrou grandes
reservas de petróleo em Abu Jabra. Esse petróleo desencadeou o que foi
designado como a segunda guerra civil do Sudão, em 1983. A Chevron foi alvo de
repetidos ataques e assassinatos e suspendeu o projecto em 1984. Em 1992, a
Chevron vendeu as suas concessões petrolíferas sudanesas. Então, sete anos
depois, em 1999, a China começou a desenvolver os campos abandonados da Chevron,
com resultados notáveis
.
Mas a Chevron não estava longe
do Darfur, mesmo em 2007.
O
Petróleo do Chade e a Política das Condutas
A antiga companhia petrolífera
de Condoleezza Rice, a Chevron, mudou-se para o vizinho Chade, do outro lado da
fronteira com a região de Darfur, no Sudão. No início de 2007, juntamente com a
ExxonMobil, a Chevron concluiu um oleoducto de 3,7 biliões de dólares que
transportaria 160.000 barris por dia de Doba, no centro do Chade, perto de
Darfur, através dos Camarões, até Kribi, no Oceano Atlântico. O petróleo era
destinado às refinarias dos EUA.
Para concretizar o oleoducto,
os gigantes do petróleo dos EUA trabalharam com o ‘Presidente vitalício’ do
Chade, Idriss Deby, um déspota corrupto que tinha sido acusado de facultar
armas fornecidas pelos EUA aos rebeldes do Darfur. Deby aderiu à Iniciativa Pan
Sahel de Washington, dirigida pelo US-European Command do Pentágono, para
treinar as suas tropas para combater o ‘terrorismo islâmico’. A Iniciativa Pan
Sahel, precursora do comando AFRICOM,
usou as Forças Especiais do Exército dos EUA para treinar unidades militares do
Mali. Mauritânia, Níger e
Chade.
Fornecido com ajuda militar
dos EUA, em treino e armas e usando os seus Guardas Presidenciais de elite
recrutados de Darfur, Deby lançou o ataque inicial, em 2004, que desencadeou o
grande conflito em Darfur. As fronteiras entre o Chade e o Darfur são
praticamente inexistentes. Deby forneceu às tropas de elite veículos
todo-terreno, armamento e armas antiaéreas para ajudar os rebeldes de Darfur,
que combatiam o governo de Cartum, no sudoeste do Sudão.
Assim, o apoio militar dos EUA
a Deby foi a alavanca do banho de sangue em Darfur. Cartum retaliou e o
desastre que se seguiu foi desencadeado com uma força total e devastadora.(26)
Então Washington e as suas
ONGs entraram em plena acção, acusando Cartum de genocídio, como pretexto para
trazer tropas da ONU e da NATO para os campos de petróleo de Darfur e do sul do
Sudão. O petróleo e não a miséria humana, estava por trás do novo interesse de
Washington em Darfur.
A campanha do ‘genocídio de
Darfur’ começou, significativamente, na mesma altura em que o oleoducto
Chad-Camarões da Chevron começou a fluir. Os EUA tinham, agora, uma base
militar no Chade para ir atrás do petróleo de Darfur e, potencialmente, para se
apoderarem das novas fontes de petróleo da China, se as tropas de manutenção da
paz da NATO pudessem ser introduzidas.’
Os objectivos militares dos
EUA em Darfur - e o Corno de África mais amplamente - estavam a ser servidos pelos
EUA e pela NATO, para apoiar as tropas da União Africana (UA) em Darfur, a
organização sucessora da Organização da Unidade Africana que incluía mais de 50
Estados africanos como membros . A NATO forneceu o apoio terrestre e aéreo às
tropas da UA que foram categorizadas como ‘neutras’ e ‘forças de paz’.
No início de 2008, o Sudão
estava em guerra em três frentes - contra o Uganda, contra o Chade e contra a
Etiópia. Cada um desses países tinha uma significativa presença militar dos EUA,
e programas militares dos EUA em andamento. A guerra no Sudão envolveu operações
secretas dos EUA e facções ‘rebeldes’ treinadas pelos EUA vindas do sul do
Sudão, do Chade, da Etiópia e do Uganda.
Em Maio de 2008, mercenários
apoiados pelo Chade, comandados por Khalil Ibrahim, Chefe do Movimento de
Justiça e Igualdade (JEM), conseguiram lançar um ataque ousado directamente na
capital sudanesa, Cartum, antes de serem repelidos. O governo sudanês acusou o
Chade de estar por trás da provocação.
The
London Times confirmou as ligações directas entre o Chade
de Deby e o JEM:
O Chade e o Sudão acusam-se,
um ao outro, de apoiar movimentos
rebeldes rivais para desestabilizar os seus regimes. Embora os combatentes do
JEM neguem o apoio do Chade, as suas ligações com o presidente Déby - que é da
mesma tribo Zaghawa como o líder do JEM - são bem conhecidas. Em Fevereiro, as
forças do JEM viajaram de Darfur para o Chade para proteger o Sr. Déby dos
rebeldes que chegavam à capital, Ndjamena. Rebeldes do Chade são vistos,
habitualmente, no lado sudanês da fronteira, a comprar suprimentos na capital do
oeste de Darfur, El Geneina. No mês passado, o The Times viu rebeldes do Chade a falar em francês - uma revelação
inadvertida em Darfur - e dirigindo livremente pelo mercado da cidade as suas
carrinhas de caixa aberta.(27)
Deby
Também olha para a China
O oleoducto financiado pelos
EUA e pelo Banco Mundial, do Chade até à costa dos Camarões, fazia parte de um
esquema muito mais grandioso de Washington para controlar as riquezas
petrolíferas da África Central, do Sudão ao Golfo da Guiné. Dizia-se que o
cinturão geológico tinha reservas de petróleo numa escala que rivalizaria com a
região rica de petróleo, do Golfo Pérsico.
Mas o antigo amigo de
Washington, Deby, do Chade, a certa altura começou a sentir-se insatisfeito com
a sua pequena parcela de lucros do petróleo controlado pelos Estados Unidos.
Quando ele e o seu parlamento decidiram, no início de 2006, obter mais das
receitas do petróleo para financiar operações militares e reforçar o seu
exército, o novo Presidente do Banco Mundial - e arquitecto da guerra no Iraque
- Paul Wolfowitz, suspendeu os empréstimos ao Chade.
Em Agosto de 2006, depois de
Deby ter ganho a reeleição, criou a própria companhia de petróleo do Chade, a
SHT, e ameaçou expulsar a Chevron e também a Petronas da Malásia, por não pagarem
os impostos exigidos. Ele exigiu uma participação de 60% do oleoducto do Chade.
Finalmente, chegou a um acordo com as empresas de petróleo, mas já estavam a
soprar os ventos de mudança.
Deby também enfrentava uma
oposição interna crescente de um grupo rebelde do Chade, o United Front for
Change, conhecido pelo seu nome em francês como FUC, que ele alegava estar
a ser financiado, secretamente, pelo
Sudão. O FUC instalou-se em
Darfur.
Nesta situação instável,
Pequim apareceu no Chade com baldes de dinheiro de ajuda, na mão.
Anteriormente, em Janeiro de 2006, o Presidente chinês, Hu Jintao, tinha feito
uma visita de Estado ao Sudão e aos Camarões, além de outros Estados africanos.
Durante esse ano, de facto, os líderes da China visitaram não menos de 48 Estados
africanos. Tal atenção a África de um Chefe de Estado não africano, não tinha
precedentes.
Em Agosto de 2006, Pequim
recebeu o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Chade para conversações e para
retomar os laços diplomáticos formais que tinham sido cortados, em 1997. A
China começou a importar petróleo do Chade, bem como do Sudão.
Tendo em mente que Washington
considerava Deby ‘um dos deles’, esse acontecimento não foi bem recebido em
Washington.
Em Abril de 2007, o Ministro dos Negócios
Estrangeiros do Chade, Allawi, anunciou em Pequim que as negociações sobre o
aumento da participação da China no desenvolvimento do petróleo do Chade
estavam a “progredir bem”. Referindo-se aos termos da China para o
desenvolvimento do petróleo, ele disse:
Os chineses são abertos; eles fazem
parcerias em que todos ganham. Como dizem, não se trata de monopólios. São
parcerias muito mais equivalentes do que aquelas a que estamos acostumados a
ter.(29)
Ironicamente, a presença económica
chinesa no Chade, foi mais eficiente a acalmar os combates e a reduzir o
deslocação da população em Darfur do que qualquer presença das tropas da União Africana ou
da ONU, jamais poderiam conseguir. Isto não era bem-vindo para algumas pessoas em
Washington e na sede da Chevron, pois significava que as empresas de petróleo
dos EUA não conseguiriam garantir o petróleo.
Chade e Darfur faziam parte de
um esforço chinês significativo para assegurar o petróleo na fonte, em toda a
África. O petróleo - ou, mais precisamente, o controlo do petróleo nas suas
fontes - também foi o factor primordial que determinou a política dos EUA em
África, à medida que a actividade da China se expandia.
O interesse de George W. Bush
em África, incluía uma nova base militar dos EUA em São Tomé e Príncipe, a 240
km do Golfo da Guiné, da qual poderia controlar os campos de petróleo de Angola
no sul, até à República Democrática do
Congo, Gabão e Guiné Equatorial. Camarões e Nigéria.(30) Aquela era exactamente
a mesma área em que a China também concentrara a sua actividade diplomática e de
investimento.
“O petróleo da África Ocidental tornou-se de
interesse estratégico nacional para nós”, afirmou o Secretário de Estado
Adjunto dos EUA para a África, Walter Kansteiner, em 2002.(31)
As acções dos Estados Unidos,
em Darfur e no Chade, eram extensões da política do Iraque, mas através de outros
meios - em vez de agressão militar directa, um inflamar insensível de violência
interna. Mas o controlo do petróleo - todo o petróleo, em toda a parte - era o
objectivo. A China estava a desafiar esse controlo ‘em toda a parte’, especialmente
em África. Foi uma Nova Guerra Fria não declarada, mas muito real - sobre o
petróleo.
A seguir:
Tibete:
É Libertado um Velho Activo da CIA
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.